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sábado, 5 de outubro de 2013

O 5 de Outubro; festejar o quê?

Faz hoje precisamente 103 anos que foi instaurada a República. Sou um republicano convicto, totalmente anti-monárquico. Sou um meritocrata; os cargos devem ser ocupados apenas e só pela competência, nunca pela descendência. Apesar de tudo não posso ser conivente com um país que festeja o 5 de Outubro. A implantação (ou imposição) da República jamais deveria ser comemorada.

A República foi, não mais que a imposição de uma casta intelectual sobre uma população profundamente tradicionalista, conservadora, ignorante e católica. Por muito que doa aos que gostam de "endeusar" a I República e a sua ideologia positivista, que pretendia que "o progresso se conciliasse com a ordem e as classes coabitassem harmonicamente" (M. L. B. Moura, p.23, 2010), a realidade é muito mais amarga que aquilo que tentam docemente vender; os republicanos tentaram instaurar ideais totalmente desajustados à realidade do país. Do ideal à concretização do ideal existe um caminho muito longo a percorrer; para os republicanos esse caminho longo não existiu. Tudo se desrespeitou, tudo se impôs. 

Como estes desassombradamente afirmavam, "o país era para todos, mas o Estado era para os republicanos"(Relvas, p. 96, 1978). Assim sendo podemos tirar apenas uma conclusão: "Não devia haver comemorações nenhumas...É um episódio triste da história portuguesa [...]. Para todos os efeitos foi uma ditadura. A ditadura não nasceu do vácuo, nasceu da República." (Valente entrevista CM, 2009). Será democrático um regime que reprimiu a imprensa? Será democrático um regime que impôs um ideal? Será democrático um regime que impôs uma Lei de Separação das Igrejas e do Estado com "desvios e exageros"? (Rosas, entrevista Público, 2010) Será democrático um regime que prendeu inúmeros portugueses por terem opiniões distintas daquelas que vigoravam?

A resposta parece-me evidente. Não! Se é verdade que os escândalos e abusos por parte da elite monárquica precipitaram a queda do regime, ao ponto de tudo convergir para que a monarquia fosse incapaz de reformar a vida pública, (J. R. Magalhães, p.33, 2009) não é menos verdade que, exceptuando a capital, o país não foi "tido nem achado" em todo o processo revolucionário. Os denominados "ultramontanos" foram desprezados por um grupo de intelectuais que, verdade seja dita, absorveu muito da filosofia dos famosos cafés de Paris e Londres mas muito pouco da não menos rica filosofia dos campos do Portugal profundo. "Lisboa não é Portugal!" (Valente, p.61, 2010).

"Ora, para «salvar» desde já o regime que os seus correlegionários ainda não tinham implantado em Portugal, «a doutrina era esta: a república para os republicanos»" 
Rui Ramos citando João Chagas, História de Portugal, 2009, p. 585.

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